Mahdiya Erfani nasceu no Afeganistão, mas hoje diz que a sua “casa” é Lisboa, a cidade que lhe deu “segurança, de uma forma que nunca tinha experimentado antes”.
Chegou a Portugal em novembro de 2021, “não só como uma jovem mulher em busca de uma carreira, mas como uma pessoa em busca de uma vida segura e feliz”, acreditando que “muitas oportunidades” a esperavam.
“A vida de um refugiado começa na incerteza”, mas “Portugal acolheu-me com generosidade”, recorda Mahdiya. Licenciada em Ciência Política e Administração Pública pela Universidade Americana do Afeganistão, a afegã sentia, contudo, ter outra vocação: a medicina. Seguiu-a, ingressando na Universidade Médica de Cabul onde estudou até agosto de 2021. “Quando os talibãs tomaram o poder, a minha educação — tal como o futuro de inúmeras mulheres afegãs — foi abruptamente interrompida”, relata Mahdiya, que, ainda assim, não desistiu.
Depois da evacuação e durante o processo de integração, tomou conhecimento do mestrado integrado em Medicina em inglês da Universidade Católica, ao qual se candidatou e foi admitida, conseguindo uma das bolsas de estudos da universidade dedicadas a refugiados.
“A bolsa de estudos foi um ponto de viragem. Permitiu-me reiniciar a minha formação médica sem o peso de restrições financeiras esmagadoras. Não foi apenas uma ajuda financeira — foi um ato de confiança no meu potencial”, sublinha a estudante
Sobre o seu percurso e a faculdade, destaca os métodos de ensino inovadores, a experiência dos professores e o sistema de aprendizagem baseado em problemas (Problem-based learning), que “tem sido transformador”. “É dinâmico, intelectualmente estimulante e reflete de perto a prática médica no mundo real. Para mim, a Medicina é mais do que uma profissão; é uma ponte entre a ciência e a humanidade”, revela Mahdiya, que c mas também estar por dentro da investigação, da inovação e das políticas globais da saúde.
“A Católica ensinou-me lições para a vida”, resume a futura médica, salientando que, academicamente, ampliou a “capacidade de pensar criticamente, aplicar conhecimentos e lidar com casos complexos”, e, pessoalmente, desenvolveu “resiliência, adaptabilidade e uma compreensão mais profunda da diversidade cultural e do seu valor”.
No curso tem encontrado as ferramentas para enfrentar a complexidade, mas também para agir com precisão e empatia. E também vários momentos para recordar como as aulas de anatomia, a primeira vez que manteve uma conversa médica fluente em português com um paciente, os trabalhos no laboratório ou as celebrações do Natal e Ano Novo, em que professores e alunos festejam a quadra com canções reescritas com humor sobre a vida médica, num “ambiente espontâneo, gentil e cheio de alegria”.
“A Católica também se tornou uma plataforma para eu defender os direitos das mulheres afegãs, que foram eliminados sob um regime extremista, e promover as vozes de grupos vulneráveis”, assegura ainda Mahdiya.
Encantada com a natureza de Portugal, com o Oceano Atlântico e as praias e conhecedora da gastronomia portuguesa, dos recantos mais secretos de Lisboa e da língua, Mahdiya diz ter um “sentimento de pertença” e a ambição de se “tornar uma força para o bem”.
“Quero chegar a um ponto em que possa retribuir à sociedade portuguesa, à minha universidade e a todos que me apoiaram durante esta complexa jornada e que não me resumiram apenas a uma estudante de medicina e refugiada”, resume, acrescentando que o seu sonho é “servir a humanidade através da inovação científica e criar soluções que melhorem genuinamente a vida das pessoas. Também quero ser um recurso confiável para aqueles que precisam, especialmente as mulheres do Afeganistão.”